domingo, 13 de maio de 2012

Apaixonada pela melhor amiga – Estudo de Caso


Vamos contar uma história de muitos e muitos anos atrás: minha primeira paixão platônica por melhor amiga.
"Oh God, acho que já li essa história umas 50 vezes nesse blog..."
Ela era a menina mais doce, meiga, feminina e boazinha da turma, ou seja, não tinha nada em comum comigo. Nos começamos a sentar juntas e eu descobri havia nela muito mais do que aquele nhenhenhe cor-de-rosa algodão-doce: ela tinha personalidade, percebia todos os movimentos a volta dela, era irônica, sádica e má. Enfim, a personificação total da dualidade geminiana.
"Ai, por que sapatão tem sempre que falar em horóscopo?"
Essa “segunda personalidade” ela só mostrava para mim. E isso me fazia sentir especial, diferente das outras amigas dela. Eu era completamente atraída pelo lado bitch dela, queria saber mais sobre ela, queria participar mais da vida dela, queria dividir tudo com ela.
Mas o lado bitch dela às vezes me tirava qualquer esperança de ela estar interessada em mim tanto quanto eu nela, e é aí que o lado meiguinho-cor-de-rosa intervia e me dava alguma esperança de volta.
Nós começamos a ficar de mãos dadas na sala, ela me beliscava (beliscão de doer!) quando sentia ciúmes de alguma outra amiga minha (e eu fazia questão de fazer ciúmes), e ficávamos sempre juntas – tanto que um colega meu chegou a perguntar para mim se nós éramos namoradas (eu, sabiamente, colei a pergunta no MSN para ela esperando estudar a reação dela, mas só recebi um “aff… ele é idiota” inconclusivo).
Uma vez, ela me mandou esse scrap:

Como eu, lésbica iniciante querendo achar agulha em palheiro, analisei:
1- Ela escreveu palavra por palavra, como dá pra ver nas abreviações. Isso demonstra uma real intenção de falar o que estava escrito – e não um simples control c + control v.
2- Ela não disse um “eu te amo” dúbio (poderia ser um “eu te amo, migááá”, né?). Ela disse[/ignore que isso é uma música e não um texto real dela] “eu te quero” dando uma entonação muito mais possessiva e carnal.
3- “Juram que eu não devia mais querer você”. Ou seja, amor proíbido. E dá licença, Romeu e Julieta, porque nos dias atuais o romance mais proibido é o homossexual. Tá, tá, não seria o mais proibído, mas colocando no contexto EU + MELHOR-AMIGA…
Que tal apagar a linha entre amizade e lesbianismo hoje à noite, gata?
Eu tentei dar uma resposta indireta tipo “às vezes você fala umas coisas que mexem comigo”, mas não avançou muito mais a conversa. Talvez eu devesse ter respondido “você me quer, é?”
Mas eu tinha um pouco de medo de me declarar. Não tanto medo pelo NÃO que eu provavelmente iria levar, mas mais pelo SIM. E se ela me dissesse SIM? O que eu faria? Tentaria beijá-la? Falaria mais alguma coisa? Combinaria alguma coisa? Isso me deixava extremamente ansiosa. E ainda eu meio que não me imaginava beijando ela – e nem sentia vontade necessariamente de beijá-la, mas eu queria mais é abraçá-la tipo casalzinho e viver num mundo nhenhenhe cor-de-rosa. E provavelmente isso só contribuiu mais pro meu medo de me declarar.
"Ai, meu Deus, como eu poderia beijar uma mulher? Isso é tão impossível para mim apesar de metade da população mundial conseguir..."
Aí o tempo foi passando, i.e. perdemos o contato diário que tínhamos na escola.
Então decidi chamar ela para dormir na minha casa no dia do meu aniversário, Meus planos eram de tentar voltar um pouco daquele clima do médio de carinhos, mão dadas, cartinhas fofas.

Mas ela já estava diferente, afastada – então não me aproximei muito.
O ano foi passando e ela começou a namorar um homem. Minha situação que já não era boa, ficou ainda pior. E era tudo sempre Fulano – a vida dela se resumia a ele.
Para minha sorte (ou não) nesse ano que eu conheci minha segunda paixão platônica, o que me distraía um pouco da primeira. Aí eu basicamente sofria de paixão por duas amigas heteros ao mesmo tempo – e no final não fiquei com ninguém.

Mas antes de eu me matar, precisa tentar tudo com a primeira paixão. Então combinei com ela de ela vir na minha casa. Não havia sinais da minha mãe. Arrumei a casa toda. Me arrumei toda. Estava (quase) preparada pra me declarar.
Deu a hora marcada e ela não apareceu. Comecei a ligar no celular dela, uma ligação horrível, barulho no fundo. Ela estava no aniversário do primo do vizinho do tio do Fulano e já iria sair. Aí eu esperava e nada. E ligava e ela ia sair 20h… 21h… 22h… E ficou muito tarde e ela confirmou que não ia dar pra vir.
All by myself... Don't wanna be...
Aí eu não falei com ela, nem respondia os recados dela por alguns meses e um ano (ou dois, não lembro) mais tarde eu confessei que era apaixonada por ela na época do médio deixando um recado no MSN quando ela estava offline. Passou uma semana e depois de eu reclamar que ela não me falou nada ela simplesmente disse que não sabia o que falar, perguntou se era isso mesmo que eu queria, disse me aceitava e pediu desculpas se me fez sofrer.
E fim. Nenhum conto de fadas-lésbico. Nenhum Imagine Eu e Você.
#FAIL

CONTINUA…

Homossexual: nascença ou escolha? – Parte 2


Já sabemos que homossexualidade não é escolha, então o que é?

Nós nascemos assim?

A maioria das pessoas não homofóbicas afirma que homossexuais nasceram assim. Mas eu, mesmo sem ter lá grandes conhecimentos científicos, acredito que essa tese é furada.
Primeiramente isso implicaria em afirmar que ser homossexual é algo genético. Bem, não sei vocês, mas meus pais, avós e bisavós são heterossexuais. 
Claro que muito mais por imposição social de anos atrás do que por livre escolha.
Supondo que o “gene homossexual” seja recessivo (eu não acredito que eu estou falando isso) sua mãe e seu pai obrigatoriamente seriam “meio gays”. Aliás, todos seus acendentes  seriam “meio gays” e você só teve a sorte de nascer de um “meio gay” com uma “meio lésbica” e dar uma lésbica completa.

Não faz muito sentido para mim definir a sexualidade de uma pessoa que nem consegue pronunciar a palavra sexualidade.
Bullshit. Apostaria R$1,23 que os homossexuais que falam “eu nasci gay/lésbica” estão querendo na verdade dizer “eu não sei por que eu sou gay/lésbica, mas não foi uma escolha”.
Mas o pior dessa teoria não é culpar seus antepassados por você ser gay. É você dar a impressão que ser homossexual é quase como nascer com uma doença.

"Opa meu neném parece ser hetero, ufa!"
Esse negócio de “eu nasci gay” dá a impressão que nós homossexuais somos um grupo fechado que sempre soube ou sentia que era gay. Como se não existisse pessoas que se descobriram gays/lésbicas depois de um casamento hetero com filhos. Como se não existisse ex-lésbicas, ex-gays (ok, esse é um assunto bem polêmico que merece um post próprio). Como se não existisse bissexuais.
Se você se considera hetero agora, pronto. Você nunca na sua vida vai se descobrir outra coisa. Você nasceu assim, cresceu assim, é mesmo assim, vai ser sempre assim Gabrieeela
e ponto.

"Deol$, obrigada por nao me fazer nascer homossexual nem asmática."
Uma outra questão que eu sinto que está totalmente mascarada em estudos biológicos sobre a homossexualidade é o objetivo de no futuro nós evitarmos filhos gays. Olha só! Podemos usar técnicas de reprodução seletiva para assegurar que homossexuais sejam extinguidos da face da Terra! Eugenia, oi?
Se bobear os políticos homofóbicos podem até tirar investimentos de pesquisas genéticas para repassar para pesquisas sobre a origem da homossexualidade.

"Para que investir na prevenção e punição da homofobia se nós podemos usar os recursos para descobrir as causas dessa doença e evitá-la?"
Ok, vocês devem estar achando que essa é minha tese de Doutorado na Teoria da Conspiração, mas vejam bem, por que a sociedade se empenha em descobrir as causas da homossexualidade? Quando pessoas fazem pesquisas elas não tem por objetivo a simples descoberta, elas querem aplicar essas descoberta em algo prático no futuro. É por isso que até hoje eu nunca vi uma pesquisa explicando o impacto do ciclo de ovulação de uma stripper sobre as gorjetas que ela recebe. (Ops!)
Para que serve uma pesquisa para se descobrir a causa de algum evento que não seja reproduzir ou evitar esse evento?
E mais uma questão interessante:

Outras teorias?

Devem existir outras teorias por aí para explicar as causas da homossexualidade. Por exemplo, o famoso cientista Evo Morales afirma que transgênicos e frangos com hormônio aumentaram o número de gays no mundo.  Faz muito sentido, afinal não existem gays/lésbicas vegetarianos e nenhum hetero come frango.
Ou então pesquisas que associam a presença de mercúrio com a homossexualidade de aves. Indiretamente estão dizendo que pessoas gays são gays pelo excesso de poluentes e toxinas encontradas no nosso meio. Por que obviamente gays só compram alimentos de supermercados gays e só tomam água vindo de fontes comprovadamente gays.

"Querido, você colocou na lista 3 latas de ervilhas gays e 4 macarrões lésbicos?"
Mas obviamente eu tenho minha própria teoria (como sempre), a estonteante…
Eu gosto de comparar gostar de um homem ou de uma mulher com gostar de uma cor ou outra. No exemplo, azul e amarelo.
- Existe explicação para uma pessoa gostar mais de amarelo do que azul? Não.
- Uma pessoa já nasce gostando de amarelo? Não sabemos.
-Uma pessoa gosta de amarelo devido a influências na sua infância (como sua mãe enfeitar o seu quarto de bebê todo de amarelo)? Não sabemos.
-Uma pessoa escolhe gostar de amarelo ou de azul? Não, ela simplesmente gosta.
-É realmente importante saber por que umas pessoas gostam de amarelo e outras de azul? Não.
-Uma pessoa pode se vestir só de azul apesar de gostar de amarelo? Sim.  (Uma pessoa pode viver uma vida hetero 
infeliz
, mesmo sendo gay).
-Uma pessoa pode gostar tanto de amarelo quanto azul? Sim.
-Uma pessoa que goste de azul tem direito a espancar uma que goste de amarelo? Não.

Viu, simples assim.

Ps. O Gonçalo me deu uma ótima idéia aqui nos comentários. Vou fazer um post sobre fatos que indicavam sua homossexualidade na infância. Madem e-mail para conselholesbico@hotmail.com contando causos da sua infância – de preferencia com fotos para ilustrar. Não precisa se identificar com nome e tal =) (*me sentindo a Marcia Goldshimit pedindo histórias*)

Homossexual: nascença ou escolha? – Parte 1


Parece uma pergunta simples, não é? Existe um imenso consenso entre homossexuais (gays ou lésbicas) para respondermos essa pergunta explicando que nascemos homossexuais. Mas está na hora de nós destrinçarmos essa questão.
(Colocando Lady Gaga nesse post para atrair leitores gays -not, só queria fazer referência mesmo.)
Indepentemente da grande diversidade que existe na comunidade LGBT, existem muitas experiências que nós compartilhamos que acabam nos tornando uma comunidade. Uma delas é ser constantemente perguntado sobre os motivos que nos tornaram homossexuais.
E por mais enrustida que seja, você sabe que um dia vai enfrentar essa pergunta. Então decidi pontuar algumas coisas que todo homossexual sabe consciente ou incoscientemente.

"Ehm... Eu sou iniciante ainda então preciso de um manual bem didático sobre essas coisas de homossexual."

Para quem explicamos?

Primeiramente, nós precisamos pensar com quem nós estamos conversando sobre essa coisa de “gay nasce gay ou é uma escolha?”. Pode parecer absurdo, mas o nosso ouvinte é quem determina nossa resposta.
Vamos supor que você seja uma estudante de biologia lésbica (raríssimas existem, claaaro)e esteja conversando com sua professora depois da aula tentando ver se rola um relacionamento Professora-Aluna com mestrado, doutorado e o escambau e você decide trazer homossexualidade para a conversa dizendo que  we’re beautiful in our way ’cause God makes no mistakes gays nascem gays.
"Chega mais, gata, que eu já te mostro meu gene sapatão."
Você provavelmente vai perder suas chances de pegar a professora porque vocês vão começar uma conversa interessantíssima sobre genética ao invés de ir prum motel.
Agora vamos supor que você saiu do armário para sua mãe e ela entra no quarto chorando transtornada perguntando se você é lésbica por falta de amor paterno, ou por falta de atenção materna, ou porque você tinha uma amiguinha de 6ª série realmente bonita com quem você passava horas no quarto trancada.
"Eu não te falei que ela era má influência?"
Minha história. Eu que não sou cruel nem idiota de começar a soltar minha voz psicanalista-wannabe e explicar que imagino que seja uma série de fatores na minha infância que me tornou homossexual. Nem tampouco vou culpar os meus genes recebidos.
"Então, mãe, eu sou fancha porque você me passou esses genes de araque. RÁ!"
Eu não era louca de falar qualquer outra coisa para minha mãe que não fosse um “eu simplesmente nasci assim e não é culpa de ninguém”.
Quando eu estou conversando sobre esse assunto com uma outra lésbica, eu sempre mostro um ponto de vista que eu definitivamente não mostro para os heteros. Porque são percepções diferentes e a grande maioria dos heteros vai procurar no seu discurso algo que justifique o preconceito.
Você: Ah, eu sou lésbica porque gosto do cheiro, da pele, da macia boca de uma mulher.
Hetero Preconceituoso: Ahhh, então foi uma escolha! Você devia parar de querer ser diferente e escolher um homem.
"Sua depravada! Só quem tem pênis tem direito a amar uma mulher!"
Você: Eu sou lésbica por que imagino que diversas experiências na minha infância me fizeram uma pessoa mais interessada em mulheres do que em homens.
Hetero Preconceituoso: Então, eu sei que você deve ter sido abusada por um homem na infância, mas nem todos são assim. Eu conheço um psicólogo ótimo que pode te ajudar a lidar com seu medo de homem e você pode voltar a ser hetero.
Você: Ahn… Não sei por que, mas eu sou lésbica.
Hetero Preconceituoso: Conheço um pastor que vai tirar o demônio de dentro de você!
"Você tem salvação: é só pagar o dízimo! Faço entrada mais 6x no cartão."

Por que não é uma escolha?

Falar que homossexualidade é uma escolha pode não ser a teoria mais preconceituosa, mas sem dúvidas é a mais burra de todas. Muita gente ainda insiste em chamar homossexualidade de “opção sexual”.
Sério, por que eu teria escolhido ser lésbica?
1- Para ser agredida fisicamente na rua por estar de mãos dadas com uma mulher?
"OMG, duas mulheres de mãos dadas!!! É o apocalipse! É o fim da raça humana! Corram para as colinas!"
2- Para ser xingada na rua por pessoas totalmente desconhecidas?
3- Para as pessoas se acharem no direito de opinar sobre minha vida sexual/amorosa?
4- Para chamar atenção das pessoas num bar a ponto de ser “convidada para me retirar”?
5- Para minha sexualidade ser assunto do cafézinho na empresa?
"Ih, aquela lá pega mulher - igual nós."
6- Para minha sexualidade interferir na percepção das minhas capacidades profissionais pelo meu chefe?
7- Para eu ouvir inúmeras religiões afirmando que eu vou para o inferno?
8- Para eu criar, educar, sustentar e amar uma criança junto com minha esposa e não ser reconhecida como mãe?
9- Para eu ouvir da minha mãe que ela preferiria que eu fosse puta ou drogada do que lésbica?
10- Para eu ter FUCKING SETENTA E OITO (78!!!) direitos negados a mim só porque o que entra na minha vagina não é um pênis? [/sem meias palavras]
(A lista está um pouco desatualizada, mas não é essa a questão)
Sério, o que eu ganho sendo lésbica? Eu não ganho porra nenhuma!
"Bem, sendo lésbica eu REALMENTE não ganho porra nenhuma. Já se eu fosse gay..."
Eu simplesmente enfrento tudo o que eu citei ali em cima e mais para poder estar com quem eu amo, coisa que um hetero consegue sem o menor esforço.
Agora me diga, porque eu escolheria ser lésbica? Eu não escolheria! Se eu pudesse transferir o que eu sinto por mulher para homem, eu o faria. Mas como isso é impossível, eu fiz uma escolha de fato:
Eu escolhi me aceitar como lésbica. Eu escolhi não viver com uma pessoa que eu não amo por pura convenção social. Eu escolhi ser feliz.
E essa é a única escolha que nós podemos fazer.

(CONTINUA…)

ps1. Ficou meio sentimental esse final então vou encher de ps para quebrar o clima.
ps2.  O título do post está como “Homossexual” porque apesar de ser um blog lésbico, acho que esse post também serve para gays e bissexuais.
ps3. O blog está ficando meio politizado porque eu estou passando por uma fase politizada. Espero que vocês gostem dessa tendência.