Vamos contar uma história de muitos e muitos anos atrás: minha primeira paixão platônica por melhor amiga.
Ela era a menina mais doce, meiga, feminina e boazinha da turma, ou seja, não tinha nada em comum comigo. Nos começamos a sentar juntas e eu descobri havia nela muito mais do que aquele nhenhenhe cor-de-rosa algodão-doce: ela tinha personalidade, percebia todos os movimentos a volta dela, era irônica, sádica e má. Enfim, a personificação total da dualidade geminiana.
Essa “segunda personalidade” ela só mostrava para mim. E isso me fazia sentir especial, diferente das outras amigas dela. Eu era completamente atraída pelo lado bitch dela, queria saber mais sobre ela, queria participar mais da vida dela, queria dividir tudo com ela.
Mas o lado bitch dela às vezes me tirava qualquer esperança de ela estar interessada em mim tanto quanto eu nela, e é aí que o lado meiguinho-cor-de-rosa intervia e me dava alguma esperança de volta.
Nós começamos a ficar de mãos dadas na sala, ela me beliscava (beliscão de doer!) quando sentia ciúmes de alguma outra amiga minha (e eu fazia questão de fazer ciúmes), e ficávamos sempre juntas – tanto que um colega meu chegou a perguntar para mim se nós éramos namoradas (eu, sabiamente, colei a pergunta no MSN para ela esperando estudar a reação dela, mas só recebi um “aff… ele é idiota” inconclusivo).
Uma vez, ela me mandou esse scrap:
Como eu, lésbica iniciante querendo achar agulha em palheiro, analisei:
1- Ela escreveu palavra por palavra, como dá pra ver nas abreviações. Isso demonstra uma real intenção de falar o que estava escrito – e não um simples control c + control v.
2- Ela não disse um “eu te amo” dúbio (poderia ser um “eu te amo, migááá”, né?). Ela disse[/ignore que isso é uma música e não um texto real dela] “eu te quero” dando uma entonação muito mais possessiva e carnal.
3- “Juram que eu não devia mais querer você”. Ou seja, amor proíbido. E dá licença, Romeu e Julieta, porque nos dias atuais o romance mais proibido é o homossexual. Tá, tá, não seria o mais proibído, mas colocando no contexto EU + MELHOR-AMIGA…
Eu tentei dar uma resposta indireta tipo “às vezes você fala umas coisas que mexem comigo”, mas não avançou muito mais a conversa. Talvez eu devesse ter respondido “você me quer, é?”
Mas eu tinha um pouco de medo de me declarar. Não tanto medo pelo NÃO que eu provavelmente iria levar, mas mais pelo SIM. E se ela me dissesse SIM? O que eu faria? Tentaria beijá-la? Falaria mais alguma coisa? Combinaria alguma coisa? Isso me deixava extremamente ansiosa. E ainda eu meio que não me imaginava beijando ela – e nem sentia vontade necessariamente de beijá-la, mas eu queria mais é abraçá-la tipo casalzinho e viver num mundo nhenhenhe cor-de-rosa. E provavelmente isso só contribuiu mais pro meu medo de me declarar.

"Ai, meu Deus, como eu poderia beijar uma mulher? Isso é tão impossível para mim apesar de metade da população mundial conseguir..."
Aí o tempo foi passando, i.e. perdemos o contato diário que tínhamos na escola.
Então decidi chamar ela para dormir na minha casa no dia do meu aniversário, Meus planos eram de tentar voltar um pouco daquele clima do médio de carinhos, mão dadas, cartinhas fofas.

Mas ela já estava diferente, afastada – então não me aproximei muito.

Mas ela já estava diferente, afastada – então não me aproximei muito.
O ano foi passando e ela começou a namorar um homem. Minha situação que já não era boa, ficou ainda pior. E era tudo sempre Fulano – a vida dela se resumia a ele.
Para minha sorte (ou não) nesse ano que eu conheci minha segunda paixão platônica, o que me distraía um pouco da primeira. Aí eu basicamente sofria de paixão por duas amigas heteros ao mesmo tempo – e no final não fiquei com ninguém.

Mas antes de eu me matar, precisa tentar tudo com a primeira paixão. Então combinei com ela de ela vir na minha casa. Não havia sinais da minha mãe. Arrumei a casa toda. Me arrumei toda. Estava (quase) preparada pra me declarar.
Deu a hora marcada e ela não apareceu. Comecei a ligar no celular dela, uma ligação horrível, barulho no fundo. Ela estava no aniversário do primo do vizinho do tio do Fulano e já iria sair. Aí eu esperava e nada. E ligava e ela ia sair 20h… 21h… 22h… E ficou muito tarde e ela confirmou que não ia dar pra vir.
Aí eu não falei com ela, nem respondia os recados dela por alguns meses e um ano (ou dois, não lembro) mais tarde eu confessei que era apaixonada por ela na época do médio deixando um recado no MSN quando ela estava offline. Passou uma semana e depois de eu reclamar que ela não me falou nada ela simplesmente disse que não sabia o que falar, perguntou se era isso mesmo que eu queria, disse me aceitava e pediu desculpas se me fez sofrer.
E fim. Nenhum conto de fadas-lésbico. Nenhum Imagine Eu e Você.
























